Fase fálica (3 aos 7 anos) na formação da personalidade da criança


Conversamos sobre as duas primeiras fases, oral e anal, e agora vamos a terceira, que vai aproximadamente dos 3 aos 7 anos, a fase fálica.

Vamos à fase fálica. Essa fase é entendida, de forma incorreta, como a fase onde as variações nas orientações sexuais são definidas.

Vamos logo entender que não é isso! Aquilo que hoje chamamos de definição sexual, orientação sexual e opção sexual, não tem relação direta com essa fase.

A definição, que é a estrutura do menino ou da menina, obviamente já foi definida entre o primeiro e trigésimo dia após a fecundação. Veremos no vídeo “Sexualidade na Formação da Personalidade”, que virá a seguir.

A orientação sexual, que é o que define a atração sexual que a pessoa terá ao alcançar a adolescência, também já tem suas bases principais definidas durante a gestação, entre 30 e 60 dias após a fecundação.

Tudo isso veremos no próximo vídeo, conforme eu disse.

E a opção sexual será trabalhada a partir da fase da adolescência, conforme veremos também.

Nessa fase, a fálica, haverá influências, conforme relatou Freud, mas não será a origem daquilo que chamamos de orientação sexual.

Na fase fálica, a criança começa a ter um melhor entendimento do que seja o outro.

Ela vai agora iniciar a criação da sua própria personalidade, começa o desenvolvimento de características de sua personalidade, começa a sentir a necessidade de ter iniciativas e surge o sentimento de culpa.

A criança entra em seu mundo virtual, aprende a imaginar e a brincar no mundo imaginário e aparecem as fantasias. Isso é necessário para o desenvolvimento do senso de cooperação. Como as crianças isoladas de outras crianças conseguiriam passar por isso? Mas é aí que entra, mais uma vez, a estratégia de nossa mente! Se não tivermos amigos, devemos criar amigos imaginários…

Ela aprende, assim, a dar e receber ordens e a fazer um equilíbrio entre os momentos de diversão e os de responsabilidade. Nessa mesma época, ela começa a perceber que existe diferença entre o papel do homem e o da mulher na sociedade.

Segundo Freud, essa observação causará os conflitos de identificação de gênero, que ele chamou de conflitos edipianos (Complexo de Édipo), baseado na tragédia “Édipo Rei”, escrita por Sófocles, quatro séculos antes de Cristo. Nessa peça, um clássico da mitologia grega, Édipo matou seu pai, Laio, sem saber que era seu pai e, em seguida, casou-se com sua própria mãe, Jocasta, sem saber que ela era sua mãe. Ao descobrir que ela era sua mãe, Édipo fura seus próprios olhos e Jocasta se suicida.

Freud baseia seu entendimento da criança nessa fase para mostrar a tentativa de entendimento de seu próprio gênero, tomando atitudes de aproximação afetiva da mãe como sua preferida e desprezando o pai, que considera seu concorrente nesse amor.
Sófocles, em sua peça, remete a uma reflexão sobre a questão da culpa em relação a comportamentos fora das normas éticas e dos tabus estabelecidos pelos grupos sociais em suas culturas.

Freud pretende mostrar que existe uma necessidade de satisfação da curiosidade sexual e intelectual, pela criança, principalmente por causa de sua “fixação” na libido como elemento impulsionador da psique humana.

Nessa faixa etária, segundo Freud, a libido está diretamente ligada à sexualidade e é assim que ele entende a busca da mãe pela criança. Essa sexualidade vai aflorar durante a busca do amor da mãe. Se essa necessidade não for satisfeita e se a criança entender que está sendo reprimida ou castigada, ela poderá desenvolver um forte sentimento de culpa que vai diminuir seu estímulo para tomar iniciativas e poderá reduzir sua vontade de explorar novas situações ou de buscar novos conhecimentos.

No que diz respeito ao entendimento psicopedagógico da criança, é nessa fase que ela consegue adquirir confiança no contato inicial com a mãe. Também nessa fase é desenvolvida a sua autonomia, já que surge a expansão motora e o autocontrole. Se essa relação da criança com sua mãe ocorrer sem transtornos, ela vai, a partir daí, estar apta a desenvolver a iniciativa, por causa do aumento de sua intelectualidade.

Essa ideia sexualizada de Freud, embora pareça meio exagerada, ajuda bastante no entendimento do desenvolvimento infantil. As crianças já sentem confiança e autonomia. Mas pela sua compreensão de mundo percebem que a razão de sua existência, sua mãe, também dedica um pouco de seu tempo a alguém, seu pai. Isso começa a ser visto como um perigo nessa relação. É uma concorrência!

A criança, então, precisa provar a si mesma que não existe o perigo de uma perda, ou seja, o amor de sua mãe é seu e assim continuará. Ela, então, em uma determinada noite, acorda e resolve tomar a iniciativa de apossar-se do que é seu. Assim sendo, vai para a cama da mãe com a intenção de abraçá-la, marcando sua presença e, se houver alguém por lá, mesmo que seja seu pai, a intenção é empurrá-lo para fora da cama.

Segundo Freud, a criança deseja transar com a mãe e matar o pai. E durante essa tentativa, ela passa por diversos estágios de satisfação e culpa que vão construir toda uma personalidade neurótica, quando mal satisfeita, ou de saúde psíquica, quando tudo dá certo.

É comum nessa idade a criança que, passados alguns minutos, a criança deve ser levada de volta para sua própria cama em seu próprio quarto. A não observância desse detalhe pode provocar o aparecimento, mais tarde, de neuroses típicas de insegurança.

Alguns casos especiais devem ser considerados, como por exemplo, as mães solteiras criando seus filhos.

O medo de perder a mãe continua valendo! Ou seja: a necessidade de ter certeza de que a mãe é sua ainda ocorrerá.

A criança pode ter a mesma necessidade e tomar a mesma atitude, de ir para a cama da mãe e querer ficar abraçada com ela.

Apenas ela não terá que disputar com um concorrente, já que não há pai presente.

A falta do amor do pai, seja pai “existente, mas ausente”, ou pai falecido, separado ou desconhecido, colabora para a formação de uma carência afetiva masculina prejudicial ao seu desenvolvimento.

As crianças precisam, para sua formação plena e emocionalmente equilibrada, de participação afetiva masculina e feminina.

A falta afetiva de um deles pode fazer surgir algum tipo de neurose futura.

O que se deve tomar muito cuidado, em ambos os casos, principalmente no da mãe solteira, é não deixar os filhos dormirem em sua cama.

Essa prática, que é comum em mães sozinhas, contribui fortemente para que essa criança, no futuro, desenvolva um senso de insegurança muito forte.

Outro caso especial importante é o casal homo afetivo adotando crianças e que precisam saber como funciona essa fase nessa situação.

Nessa relação homo afetiva, sejam dois homens ou duas mulheres, o que vai importar mesmo é a qualidade do afeto passado por cada um.

A qualidade masculina de afeto preenche algumas necessidades emocionais e psíquicas da criança, enquanto que a feminina preenche outras.

Então, para a formação psíquica e emocional equilibrada, não depende exatamente dos pais serem um casal heterossexual (isso para desespero dos que lutam contra casais homo afetivos…), mas sim de que seja garantido à criança a afetividade característica feminina e a afetividade característica masculina, completando o par formador de sua personalidade afeto-psíquica equilibrada.

Em muitas famílias com pais tradicionais existe a falta do afeto característico masculino, mesmo havendo pai e sendo pai heterossexual.

E o resultado, na formação da personalidade dessa criança é que, na adolescência, se for uma menina, ela terá grandes chances de confundir suas paixões com falta de afeto paternal.

A consequência mais comum é apaixonar-se por alguém que, inconscientemente, significa o pai que estava ausente.

O erro nesse relacionamento só trará consequências mais tarde, quando a mente dela rejeitará o relacionamento, criando um complexo de culpa que, sem esse entendimento, parecerá injustificado.

Então, os problemas emocionais e psíquicos futuros nada têm a ver com pais heterossexuais ou casais homo afetivos, mas sim com a falta de afeto com características masculinas e femininas.

5 Comentários

  1. Rita said,

    27 de março de 2017 às 02:58

    referências?

    • 27 de março de 2017 às 09:38

      Além dos clássicos de Freud, Wallon, Erikson, Piaget e Vygotsky, tomei também como referência todas as obras citadas nas páginas 157 e 158 do meu livro “Afetividade na Educação – Psicopedagogia”.
      Tudo isso somado aos resultados das experimentações que eu mesmo e meus colaboradores fazemos diariamente com base nessas teorias, e nas observações e acompanhamentos cognitivos e comportamentais realizados por mim e pelos colaboradores, em creches, escolas de educação infantil, escolas de educação básica, como o meu próprio COLÉGIO IUPE, na Liberdade, em salvador, e nos atendimentos cognitivos, comportamentais e analíticos realizados por mim e pelos colaboradores em clínicas e escolas.
      Todos esses estudoa fazem parte da coletânea ESTUDOS SOBRE EDUCAÇÃO E INCLUSÃO, cujo primeiro volume é esse “Afetividade na…”, que está em sua 3ª edição.

  2. 20 de junho de 2018 às 06:47

    […] Autor: Prof. Roberto Andersen […]

  3. Samuel Souza said,

    26 de junho de 2018 às 21:34

    Ok, mas vejo muitos casais homo ambos com características masculinas e outra coisa, como que num casal homo alguém consegue assumir uma orientação de forma absoluta em diversos aspectos ?

    • 27 de junho de 2018 às 11:21

      Ainda precisamos de muita análise a partir das observações e relatos! Uma das minhas dificuldades nessas análises está na falta de relatos suficientes e que sejam totalmente confiáveis. Não são muitos os casais homo afetivos que concordam em “se abrir” sobre todos esses aspectos. Tenho tentado convencê-los, principalmente pelo fato de que, essas análises têm por objetivo, não somente informação técnica, mas a possibilidade de desenvolvermos estudos que levam à construção da felicidade dos filhos.


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